QUARTA TABULETA
EPISÓDIO III
Primeiro Anu ficou sem palavras, depois, enfurecido, respondeu: Que nossa disputa seja decidida em uma segunda luta, vamos lutar aqui, vamos fazer isso agora! Com desdém, Alalu tirou a roupa; do mesmo modo, Anu se despiu. Nus, os dois membros da realeza começaram a lutar. A luta foi se desenrolando de forma poderosa. Então, Alalu dobrou o joelho e caiu ao chão. Anu pisou com seu pé o peito de Alalu, declarando assim a vitória na luta. Pela luta se tomou a decisão.
-- Eu sou o rei, Alalu não voltará a Nibiru! - assim estava falando Anu ao tirar o pé do caído Alalu.
Como um raio, Alalu levantou-se do chão. Derrubou Anu pelas pernas. Com a boca escancarada, rapidamente ele mordeu e engoliu um bocado da masculinidade de Anu! Em dolorosa agonia, Anu gritou aos céus, caindo ao chão, ferido. Enki se precipitou sobre o caído Anu enquanto Enlil segurava cativo o sorridente Alalu. Os heróis levaram Anu para sua cabana, enquanto ele proferia palavras de maldição contra Alalu.
-- Que a justiça seja feita! - gritou Enlil a seu lugar-tenente. Que Alalu seja morto através de sua arma de raio!
-- Não! Não!, gritou ferozmente Enki. A justiça está dentro dele, em suas vísceras entrou o veneno! Eles levaram Alalu para uma cabana de junco, amarraram suas mãos e pés como a um prisioneiro.
Em sua cabana de junco, Anu estava sofrendo. Junto a ele, Enki aplicava a cura a seu ferimento. Na outra cabana de junco, Alalu estava sentado, cuspindo saliva de sua boca, em suas vísceras a masculinidade de Anu era como um fardo, suas entranhas impregnadas com o sêmen de Anu; como uma mulher em trabalho de parto, sua barriga cresceu, inchando.
O dia seguinte foi semelhante. No terceiro dia, as dores de Anu diminuíram; seu orgulho estava muito ferido.
-- Quero voltar a Nibiru! - disse Anu a seus dois filhos. Mas, antes o julgamento de Alalu tem que ser feito, deve ser imposta uma sentença adequada ao crime!
Pelas leis de Nibiru, sete juízes eram requeridos, o maior deles em hierarquia deveria presidir. Na praça de Eridu, os heróis se reuniram em assembléia para presenciar o julgamento de Alalu. Para os Sete Que Julgam, sete assentos foram providenciados; para Anu, presidindo, preparou-se o assento mais alto. À sua direita sentou-se Enki; Enlil estava sentado à esquerda de Anu. À direita de Enki se sentaram Anzu e Nungal; Abgal e Alalgar estavam sentados à esquerda de Enlil. Ante os Sete Que Julgam foi levado Alalu, suas mãos e pés foram desamarrados.
Enlil foi o primeiro a falar.
-- Em justiça, uma luta foi realizada, Alalu perdeu a realeza para Anu!
-- O que diz você, Alalu? - perguntou-lhe Enki.
-- Em justiça, uma luta foi realizada, a realeza perdi! - disse Alalu.
-- Tendo sido vencido, Alalu cometeu um crime abominável, a masculinidade de Anu ele mordeu e engoliu! - assim fez Enlil a acusação do crime- A morte é o castigo! - disse Enlil.
-- O que você diz, Alalu? -perguntou Enki a seu pai por matrimônio.
Houve silêncio. Alalu não respondeu à pergunta.
-- Todos nós testemunhamos o crime! - disse Alalgar.
-- A sentença deve ser de acordo! Se houver palavras que queira pronunciar, as diga antes do julgamento! - disse Enki a Alalu.
No silêncio, Alalu começou a falar, lentamente.
-- Em Nibiru eu era rei, por direito de sucessão eu reinava. Anu era meu copeiro. Aos príncipes ele fez despertar, para uma luta ele me desafiou. Por nove ciclos fui rei em Nibiru, a minha semente pertencia à realeza. O mesmo Anu se sentou em meu trono e, para escapar da morte, empreendi uma perigosa jornada até a distante Terra. Eu, Alalu, descobri em um planeta alienígena a salvação de Nibiru! O retorno a Nibiru me foi prometido para recuperar o trono com justiça! Depois, veio Ea à Terra o qual, por compromisso, foi designado a ser o próximo a reinar em Nibiru. Então, veio Enlil reivindicando para si a sucessão de Anu. Aí, veio Anu, por sorteio enganando a Ea. Enki, o Senhor da Terra, foi proclamado, senhor da Terra, não de Nibiru. Então, o comando foi concedido a Enlil, ao distante Abzu foi relegado Enki. De tudo isto se doía meu coração, o peito me ardia de vergonha e fúria; então, Anu pôs seu pé sobre meu peito, sobre meu doído coração estava pisando!
No silêncio, Anu levantou a voz.
-- Pela semente real e pela lei, em justa luta ganhei o trono. Minha masculinidade você mordeu e engoliu, para interromper minha linhagem! então, Enlil falou.
-- O acusado admitiu o crime, que se dite a sentença, que o castigo seja a morte!
-- Morte! - disse Alalgar.
-- Morte! - disse Abgal.
-- Morte! - disse Nungal.
-- A morte para Alalu por si só virá, o que ele engoliu em suas entranhas a morte irá trazer! - disse Enki.
Que Alalu esteja na prisão pelo resto de seus dias na Terra! - disse Anzu.
Anu refletia nas palavras deles; sentia-se afligido pela ira e pela compaixão ao mesmo tempo.
-- Morrer no exílio, que essa seja a sentença! - disse Anu.
Surpresos, os juízes se entreolharam. Não entendiam o que Anu estava dizendo.
-- Nem na Terra nem em Nibiru será o exílio! - disse Anu. No caminho está o planeta Lahmu, dotado de águas e atmosfera. Enki, sendo Ea, deteve-se ali; estive pensando nele como uma estação intermediária.Sua força gravitacional é menor que a da Terra, uma vantagem que temos que considerar sabiamente. Alalu será levado na nave espacial, quando eu partir da Terra, ele fará a viagem comigo. Daremos voltas ao redor do planeta Lahmu, daremos a Alalu um módulo espacial, para que nele desça ao planeta Lahmu. Sozinho em um planeta alienígena, exilado ele estará, para que conte seus dias até seu último dia sozinho!
Por unanimidade se impôs esta sentença a Alalu, na presença dos heróis anunciada.
Houve despedidas, tão alegres quanto tristes. Anu embarcou na nave
mancando, Alalu entrou nela com as mãos amarradas.
Depois, a espaçonave decolou para os céus, e a visita real terminou. Deram uma volta ao redor da Lua; Anu estava encantado com a visão.
Viajaram para o vermelho Lahmu e por duas vezes o circundaram.
Freados pela força da gravidade de Lahmu, preparararam na nave o módulo estelar.
Então, Anzu, seu piloto, disse a Anu umas palavras inesperadas:
Descerei com Alalu ao solo firme de Lahmu, não quero voltar para
a nave com o módulo estelar!
Ficarei com o Alalu no planeta alienígena, até que ele morra, eu o protegerei.
Quando ele morrer devido ao veneno em suas entranhas, como convém a um rei eu o enterrarei!
Quanto a mim, terei feito meu nome.
Anzu, eles dirão, contra todas as probabilidades, foi companheiro de um rei no exílio, viu coisas que outros não viram, em um planeta alienígena ele enfrentou coisas desconhecidas!
Anzu, até o final dos tempos, dirão eles, morreu como um herói!
-- Seu desejo será honrado. - disse Anu para Anzu. Desde este momento,
eu faço uma promessa a você, levantando a mão eu faço este juramento:
Na próxima viagem, uma espaçonave circundará Lahmu, um módulo estelar descerá até você. Se ele o encontrar com vida, você será proclamado senhor do Lahmu; quando uma estação intermediária for estabelecida no Lahmu, você será seu comandante!
A módulo espacial partiu da nave, de onde ficaram observando sua descida, até desaparecer. Só então a espaçonave prosseguiu para Nibiru.
em Eridu. No nono Shar, morrer no exílio no Lahmu foi o seu destino.